RESENHA

A cantora ‘desconhecida’ que roubou a cena no Best of Blues and Rock

Apresentando-se no Brasil pela primeira vez, Judith Hill não parecia familiar a um público que não demorou para reconhecer seu enorme talento

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 16/06/2025, às 16h24 - Atualizado às 16h24
A cantora Judith Hill durante show no Best of Blues and Rock - Foto: Ellen Artie @ellenartie
A cantora Judith Hill durante show no Best of Blues and Rock - Foto: Ellen Artie @ellenartie

Alice Cooper. Deep Purple. Dave Matthews Band. Richard Ashcroft, a voz do The Verve. Em meio a este lineup internacional estrelado do 12º Best of Blues and Rock, encerrado no último domingo, 15, após quatro dias de som, havia uma artista americana bem menos conhecida do público que ocupou o gramado do Parque Ibirapuera, em São Paulo. Mas seu trabalho é tão bom quanto o dos artistas consagrados que pisaram no mesmo palco.

Judith Hill, cantora de 41 anos natural de Los Angeles, parecia até saber que poderia encontrar uma plateia alheia a seu trabalho. Estreante no Brasil, a artista ainda estava se apresentando logo antes do Purple, cuja obra seminal para o hard rock pouco tem a ver com seu som. Por isso, certificou-se de provocar impacto logo nos primeiros segundos. Com o palco ainda escuro, sem anúncio prévio e até mesmo alguns minutos antes do horário previsto, ela surpreendeu ao interpretar versos de “Feeling Good”, clássico de Nina Simone, com um poderio vocal impressionante.

A cantora Judith Hill durante show no Best of Blues and Rock
A cantora Judith Hill durante show no Best of Blues and Rock - Foto: Ellen Artie @ellenartie

Era apenas uma prévia do que o público posicionado na área externa do Auditório Ibirapuera iria testemunhar na hora seguinte. Acompanhada de uma banda com os próprios pais (Robert “Pewee” Hill, no baixo, e Michiko Hill, nos teclados) além do baterista Shadrack “Shaddy” Oppong, Judith, também guitarrista, apresentou um repertório de execução primorosa destilando:

  • funk, como na dançante “Runaway Train”;
  • soul, a exemplo da afável “Burn It All” e da tipicamente oitentista “You Got It Kid”;
  • blues, notado já na abertura em “I Can Only Love You by Fire”, que chega a lembrar “Dazed and Confused” do Led Zeppelin;
  • e de certo modo até uma pontinha de rock, sentida em trechos mais pesados de “Flame”.

Mesmo com a destreza técnica dos instrumentistas, porém, era impossível desgrudar os olhos da artista principal. Além da execução vocal que remete aos melhores tempos de Aretha Franklin e da já citada Nina Simone — ainda que com identidade própria —, Hill é uma grande compositora e guitarrista de mão cheia. Com uma Gibson SG em mãos, segurou a bronca nos diferentes tipos de arranjos, do groove ardido de “Gypsy Lover” ao intenso blues de encerramento “Cry, Cry, Cry”, com solos arrepiantes.

O público demonstrou aprovação em diversos momentos. Não apenas pela música, como também pela mensagem. No miolo do set, duas baladas — a primeira conduzida ao piano — de caráter pessoal chamaram atenção. A melancólica “Give Your Love to Someone Else” foi iniciada com um discurso motivacional na pegada de “a vida é uma jornada e não um destino”, enquanto “Dame de la Lumière” a trouxe referenciando na letra sua avó paterna e sua mãe, creditadas como as responsáveis por transformá-la numa “mulher forte e poderosa”.

Quem não conhecia Judith Hill saiu do Ibirapuera com um belo de um cartão de visitas. Talvez descubram que a americana trabalhou como backing vocal de Michael Jackson e Prince (produtor de seu primeiro álbum solo, Back in Time, de 2015) e gravou com nomes do porte de Rod Stewart, Gregg Allman, Robbie Williams, Barry Manilow e Incubus, entre muitos outros. Que o espetáculo de domingo, 15, seja o início de uma boa relação com o Brasil.

A cantora Judith Hill durante show no Best of Blues and Rock
A cantora Judith Hill durante show no Best of Blues and Rock - Foto: Ellen Artie @ellenartie

Repertório:

  1. I Can Only Love You by Fire
  2. Fire (original do Ohio Players)
  3. Gypsy Lover
  4. Runaway Train
  5. Burn It All
  6. Give Your Love to Someone Else
  7. Dame de la Lumière
  8. Flame
  9. You Got It Kid
  10. Cry, Cry, Cry

+++ LEIA MAIS: Alice Cooper oferece muito mais do que “rock teatral” no Best of Blues and Rock
+++ LEIA MAIS: Deep Purple ‘surpreende sem surpreender’ ao fechar o 12º Best of Blues and Rock
+++ LEIA MAIS: Dilemas à parte, Charlie Brown Jr de Marcão e Thiago agrada no Best of Blues and Rock
+++ LEIA MAIS: Som pesado do Black Pantera quebra barreiras no Best of Blues and Rock
+++ Siga a Rolling Stone Brasil @rollingstonebrasil no Instagram
+++ Siga o jornalista Igor Miranda @igormirandasite no Instagram