MÚSICA

Beach Boys: O guia completo dos álbuns da banda

A banda mais antiga da América — do surf rock às sinfonias de estúdio e muito mais

Redação

Publicado em 11/06/2025, às 17h36
A banda de rock and roll The Beach Boys posa para um retrato por volta de 1964. (E-D) Carl Wilson, Dennis Wilson, Mike Love, Al Jardine, Brian Wilson - Foto: Michael Ochs Archives/Getty Images
A banda de rock and roll The Beach Boys posa para um retrato por volta de 1964. (E-D) Carl Wilson, Dennis Wilson, Mike Love, Al Jardine, Brian Wilson - Foto: Michael Ochs Archives/Getty Images

Os Beach Boys são a saga mais lendária do rock & roll americano — e também uma das mais turbulentas, com uma história familiar conturbada no centro de tudo. Os irmãos Wilson eram garotos dos subúrbios da Califórnia: Brian, o gênio atormentado do pop que ouvia harmonias dentro da própria cabeça. Carl, o garoto tímido com uma voz celestial. Dennis, o baterista desvairado que vivia de fato o estilo de vida de carros e surfe que Brian apenas cantava. Junto deles, o amigo do colégio Al Jardine e um primo chamado Mike Love, que se orgulhava de trazer as más vibrações. Eles passaram mais de 50 anos surfando essa onda selvagem — às vezes caindo feio, mas frequentemente alcançando lugares onde ninguém mais chegava. Seus sucessos são só o começo — o catálogo da banda é repleto de clássicos atemporais, joias enterradas em álbuns esquecidos e saltos insanos de barriga. Aqui está um mapa desse vasto cancioneiro dos Beach Boys.

INDISPENSÁVEIS:

Today! (1965)

“Eu só tentei surfar uma vez, e a prancha quase acertou minha cabeça,” disse Brian Wilson à Rolling Stone em 1999. Mas ele transformou suas fantasias em um mundo onírico californiano de carros velozes e ondas perfeitas, um mundo que talvez até tivesse espaço para um desajustado sagrado como ele. Today! é repleto de canções dolorosamente complexas, como “When I Grow Up (to Be a Man)” e “She Knows Me Too Well”, que soa como uma tragédia grega com harmonias doo-wop e guitarras surf.

INDISPENSÁVEIS:

Pet Sounds (1966)

Brian ficou impressionado com Rubber Soul, dos Beatles, e Pet Sounds foi sua resposta. Ele pagou o preço por abandonar a fórmula de sucessos da banda quando Pet Sounds fracassou nas paradas. Hoje, é um dos álbuns mais amados do planeta (ocupando o segundo lugar na lista dos 500 maiores álbuns da história da Rolling Stone). Ainda assim, continua surpreendente de se ouvir, cheio de detalhes sonoros quase alienígenas. Especialmente “God Only Knows”, uma canção que todo mundo gostaria de cantar, embora apenas anjos — ou Carl Wilson — conseguissem alcançar aquelas notas agudas.

INDISPENSÁVEIS:

Endless Summer (1974)

Um álbum inteiro de “Fun, Fun, Fun”, estendido em um retrato duplo em vinil sobre a vida e a morte do sonho americano. Endless Summer reúne todos os primeiros sucessos — da euforia de “I Get Around” à melancolia introspectiva de “In My Room”. Ele termina antes de Pet Sounds, mas ainda assim continua sendo a antologia essencial da banda — nem que seja apenas pelo fato de garantir que você não vai se deparar com “Kokomo”.

INDISPENSÁVEIS:

The Smile Sessions (2011)

Brian queria seguir o monumental single de 1966, “Good Vibrations”, com uma “sinfonia adolescente para Deus” ainda mais ambiciosa. Mas, após um colapso no estúdio, ele abandonou o projeto, que só foi finalizado em 2004 com sua banda de turnê. As fitas das sessões originais dos anos 60 foram compiladas em 2011. Ainda hoje, soa como algo de outro mundo.

PARA OUVIR ALÉM:

Summer Days (and Summer Nights!!) (1965)

A última festa na praia antes de Pet Sounds. “California Girls” foi um prenúncio ensolarado do psicodelismo que viria, além de representar um auge vocal para Mike Love, enquanto Carl descobria sua voz como vocalista principal em “Girl Don’t Tell Me”.

PARA OUVIR ALÉM:

Wild Honey (1967)

Após o desastre do projeto Smile, os Beach Boys voltaram ao básico, entregando seu manifesto mais puro de rock & roll. Nada de poesia, apenas 24 minutos de uma explosão de soul na voz de Carl Wilson e fúria de banda de garagem.

PARA OUVIR ALÉM:

Já homens adultos, os Beach Boys soam intensamente emotivos em Sunflower — sua música mais otimista e edificante, em um clima suave de soft rock dourado. Dennis rouba a cena com “Slip On Through” e “Forever”, enquanto Mike Love realmente brilha em “Add Some Music to Your Day”, que poderia ter sido um sermão piegas, mas acaba sendo comovente. É o Abbey Road deles.

PARA OUVIR ALÉM:

Holland (1973)

Brian cita Holland como um de seus álbuns favoritos — uma escolha surpreendente, já que é um disco em que ele assume um papel secundário. Holland é um experimento bagunçado, mas recompensador, de democracia dentro da banda, cheio de toques quase progressivos. O novo integrante Blondie Chaplin canta “Sail On, Sailor”, o melhor hit dos Beach Boys nos anos 70. A banda se isolou em uma vila holandesa para gravar — daí o título — e esse exílio europeu ajudou a inspirar a beleza nostálgica da “California Saga”, composta por Mike e Al Jardine em três partes.

PARA OUVIR ALÉM:

Love You (1977)

“Eu estava na cama no começo dos anos 70”, admitiu Brian. Ele passou boa parte da década recluso em sua mansão, imerso em uma névoa de drogas. Mas ressurgiu com Love You, uma excentricidade adorada pelos fãs mais devotos de Brian. “I Wanna Pick You Up” continua sendo uma das canções mais belas do rock sobre paternidade. O ponto alto mais improvável é “Johnny Carson”, uma cançãozinha dolorosamente sincera sobre ser um cara solitário no quarto, assistindo TV tarde da noite.

EXPLORANDO MAIS A FUNDO:

Surfin’ USA (1963)

A faixa-título é o hino de espírito adolescente da banda, turbinando o riff de “Sweet Little Sixteen”, de Chuck Berry. Apesar de conter instrumentais de surfe meio descartáveis em excesso, o álbum brilha em faixas como “Farmer’s Daughter” e na balada beach-goth “Lovely Sea”.

EXPLORANDO MAIS A FUNDO:

Beach Boys’ Party! (1965)

A Capitol queria um LP rápido a tempo do Natal, então os Beach Boys entraram no estúdio com alguns amigos, namoradas e cervejas para gravar às pressas um monte de covers (principalmente de clássicos dos anos 50, além de Beatles e Dylan), com violões, palmas, harmonias bagunçadas e um monte de garrafas tilintando ao fundo. Eles ainda conseguiram emplacar um hit com isso: “Barbara Ann”.

EXPLORANDO MAIS A FUNDO:

Smiley Smile (1967)

Como os Beach Boys passaram o "Summer of Love"? Escondidos no estúdio, é claro. Smiley Smile (concebido como uma versão despojada de Smile) é solto e excêntrico, não muito distante das Basement Tapes de Dylan com The Band. Um dos poucos convidados: Paul McCartney, que pode ser ouvido mastigando salsão em “Vegetables”.

EXPLORANDO MAIS A FUNDO:

Surf’s Up (1971)

Brian apareceu em um especial de TV de Leonard Bernstein em 1967, sentado sozinho ao piano de casa, surpreendendo os telespectadores com sua nova canção, “Surf’s Up”. A balada épica (originalmente gravada para Smile) levou anos até ser lançada, mas valeu a espera. Ninguém jamais entendeu de fato o que Van Dyke Parks quis dizer com suas letras obscuras, mas os Beach Boys as cantam como se cada palavra fosse verdade. É o clímax de um álbum melancólico sobre encarar a vida adulta.

Este artigo foi originalmente publicado pela Rolling Stone EUA, por Rob Sheffield, no dia 25 de agosto de 2018, e pode ser conferido aqui.

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