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Freiras decotadas do Dogma provam por que são a nova sensação do rock em show contagiante

Grupo formado por cinco madres com caras pintadas e decotes nas pernas e seios se apresentou na noite desta segunda, 19, no Manifesto Bar, no Itaim Bibi

Angelo Cordeiro (@oangelocinefilo)

Publicado em 20/05/2025, às 12h30
Freiras decotadas do Dogma provam por que são a nova sensação do rock em show contagiante - Foto: Ellen Artie
Freiras decotadas do Dogma provam por que são a nova sensação do rock em show contagiante - Foto: Ellen Artie

Na noite desta segunda, 19, o Manifesto Bar, no Itaim Bibi, em São Paulo, recebeu a banda Dogma, grupo de rock formado por freiras decotadas que ganhou destaque nacional após sua marcante apresentação no Bangers Open Air 2025, realizado no início de maio, no Memorial da América Latina. Desde então, o grupo passou por diversas cidades do país, como Curitiba, Belo Horizonte, Vitória, Porto Alegre, Campinas, Goiânia e Brasília, conquistando fãs fiéis e também espectadores curiosos. A Rolling Stone Brasil esteve presente no último show da banda no Brasil. 

Quem são?

Com um álbum de estúdio lançado até agora, Dogma vem colhendo frutos de uma série de hits lançados desde 2022, os quais conquistaram uma legião de fãs — ou seguidores deste culto profano? — consolidando a reputação da banda. A origem do grupo é envolta em mistérios e pouco se sabe sobre as integrantes além dos pseudônimos que adotam: Lilith (voz), Lamia (guitarra), Rusalka (guitarra), Nixe (baixo) e Abrahel (bateria). Embora alguns palpites apontem para o México como possível berço da banda, nada é confirmado, o que só aumenta o fascínio em torno delas.

Musicalmente, o som da Dogma mistura metal melódico e progressivo com elementos do hard rock, criando uma sonoridade potente, técnica e acessível, que ganha ainda mais impacto ao vivo pela energia contagiante das integrantes e pela interação empolgante com o público.

O ao vivo

Com trajes que distorcem o vestuário religioso tradicional de uma freira, incluindo decotes acentuados nos seios e pernas, e maquiagem no estilo corpse paint, típica do metal extremo, o grupo entregou um espetáculo que é tanto um show de rock quanto um ritual de provocação.

A plateia, composta por fãs de longa data e curiosos atraídos pelo burburinho recente após as apresentações pelo país, respondeu com entusiasmo e devoção. Engana-se quem pensa que o público majoritário é o masculino devido aos figurinos que exaltam curvas e decotes generosos. As mulheres também marcaram grande presença, com direito a maquiagem que remete às pinturas dos rostos das integrantes.

Parte do fascínio causado pela Dogma vem da forma como o grupo articula corpo, imagem e som em uma linguagem própria. As integrantes não economizam na entrega física: dançam em sintonia enquanto tocam seus instrumentos com segurança, compondo uma coreografia quase ritualística. A vocalista Lilith, em especial, domina o palco com uma postura altiva e teatral, que mistura provocação, autoridade e magnetismo, sendo uma figura que comanda o público com o olhar e a pose, sem nunca perder o tom.

Apesar da estética chamativa ser o primeiro impacto, devido aos figurinos que beiram o sacrílego e uma presença de palco sensual, é quando o som começa que a verdadeira força da Dogma se revela. As cinco integrantes demonstram total entrega e domínio técnico, deixando claro que o espetáculo vai muito além da imagem. A cada riff, batida e refrão gritado, fica evidente que existe paixão genuína ali, tanto por parte da banda quanto do público.

Apesar de não haver muitas interações entre as integrantes e o público — Rusalka é a que se mostra mais à vontade para agitar os presentes, enquanto Nixe intimida e provoca com suas caras e bocas —, as letras, carregadas de transgressão e libertação sexual, são cantadas em coro por uma plateia que não está apenas fascinada pelo visual, mas verdadeiramente conectada com o conteúdo e a energia da música.

O repertório

"Forbidden Zone" abriu a noite com intensidade e já colocou o público em transe. Em seguida, vieram outras faixas marcantes como "Feel the Zeal" e "My First Peak", esta última capaz de animar a galera com gritos de "hey!" durante a introdução. "Made Her Mine" deu sequência ao setlist, antes que a baterista Abrahel brilhasse com um solo na abertura de "Carnal Liberation", outra queridinha do público.

Surpreendendo os novatos de Dogma, o grupo fez um cover de Madonna, interpretando "Like a Prayer" com sua pegada única. O show continuou com "Bare to the Bones" e a intensa "Pleasure from Pain", que exigiu da vocalista gritos potentes e uma performance vigorosa das guitarras e baixo. Já na reta final, a banda executou "Father I Have Sinned", seu maior hit, seguido por "The Dark Messiah", que encerrou a noite em clima contagiante, provando por que elas são consideradas a nova sensação do rock.

Elas voltam?

Embora o show deste dia 19 de maio tenha sido o último no Brasil, o sucesso que Dogma fez em várias cidades, e não só em São Paulo, sugere que um retorno é mais do que provável. Encerrada a passagem pelo Brasil, a banda inicia em sequência uma turnê pela América Latina, com shows programados na Colômbia e no México, antes de rumar para a Europa, onde visitarão Alemanha e Reino Unido.

A energia, o carisma e a paixão das integrantes, aliadas à recepção calorosa do público, indicam que essa história ainda tem muitos capítulos a serem escritos no país com mais católicos no mundo. Que ironia, não?

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