Karol G festeja com a história no álbum Tropicoqueta
A mais nova estrela colombiana acrescenta sua própria voz às das mulheres que moldaram o pop latino
Julyssa Lopez
Publicado em 24/06/2025, às 18h32
Para onde exatamente uma artista vai após alcançar um sucesso global, em estádios lotados e quebrar recordes? Karol G, a megastar colombiana cuja carreira decolou de vez com seu último álbum, MañanaSerá Bonito (2023), que entrou para a história, se fez a mesma pergunta. Por um tempo, ela considerou se afastar completamente do que havia feito até então:
“Comecei a pensar que talvez devesse fazer um álbum em inglês ou experimentar novos sons que nunca tinha tentado antes”, contou à Rolling Stone. “Comecei a pensar em todos esses conceitos malucos que nunca fariam sentido para a Karol G.”
Em vez disso, Karol decidiu olhar para dentro. Começou a pensar em todas as músicas que marcaram sua infância — baladas barrocas dos anos 1980, vallenatos arrebatadores, merengue das festas dançantes nas salas de estar da família em Medellín. O que acabou surgindo foi Tropicoqueta, um compêndio vibrante e alaranjado de 20 faixas, todas puxando de diferentes partes da história do pop latino. Há um foco especial na parte pop — o que se realiza aqui é leve e descontraído, voltado para a acessibilidade e identificação. Não se trata de mergulhos densos em clássicos do cancioneiro latino-americano; parte da marca de Karol sempre foi sua leveza, simpatia e poder comercial. Ela enche o álbum de referências familiares, amostras-surpresa e reinterpretações memoráveis — tudo formando um mosaico entre passado e presente.
Tropicoqueta começa com um interlúdio em que Karol canta com o rádio ao lado de ninguém menos que Thalía, estrela das telenovelas dos anos 1990 e cantora que definiu várias décadas do pop latino. A música que toca no rádio? "Piel Morena", o hit internacional de 1995 que transformou Thalía em fenômeno pop. Depois de algumas risadas, Thalía diz alegremente a Karol: “E você, me mostrando sua música nova? Qual foi aquela que gostei mesmo? Toca, é tão boa.” É uma passagem de bastão — uma rainha do pop latino dando sua bênção à nova geração.
Ainda assim, o que vem a seguir é um pouco inesperado. Embora grande parte de Tropicoqueta orbite em torno de ritmos latinos populares, escolhas de produção mais modernas impedem que soe datado ou derivativo. Parte disso se deve ao minimalismo marcante de Ovy on the Drums e, no caso da segunda faixa, Ivonny Bonita, ao toque refinado de Pharrell Williams — ambos tentando canalizar o espírito de Sade. Mas os verdadeiros destaques são os momentos de pura nostalgia: "No Puedo Vivir Sin Él" busca a mágica — e, graças a um arranjo deslumbrante, em grande parte consegue — enquanto "Coleccionando Heridas" é um ponto alto belíssimo, reforçado pelos vocais de Marco Antonio Solís, o romântico consagrado que parece sinônimo de atemporalidade.
Outros flertes com o passado são feitos de forma mais lúdica, com uma pitada de humor. A proposta de Karol ficou clara desde que ela postou uma prévia do álbum em modo “showgirl de Copacabana”, abraçando o exagero das performances de eras passadas. No entanto, algumas dessas escolhas carregadas de camp geraram controvérsia. Quando o primeiro single, "Latina Foreva", foi lançado, logo enfrentou críticas online por usar clichês fáceis e uma sexualização considerada excessiva. (Karol canta sobre latinas com “curvas que você nem vê na NASCAR” em cima de uma interpolação de "Oye Mi Canto", de Nina Sky. O clipe também foi criticado pela falta de diversidade na representação das latinas.) Já Papasito se joga no glamour da salsa antiga, com Karol no papel de uma mulher hispânica tentando cantar em inglês para conquistar um americano.
Mas, no fim das contas, esses clichês remetem a uma história compartilhada da cultura latina — e Karol adiciona sua própria voz à das mulheres que moldaram essa cultura. Mesmo quando está interpretando uma vedete à moda antiga, ela acrescenta emoção às imagens e ícones que estamos acostumados a ver: isso transparece na dor de "Ese Hombre Es Malo" e na vulnerabilidade de "Se Puso Linda". E então, para o grande final, ela retorna às memórias que a trouxeram até aqui. Tropicoqueta, um merengue animado, canaliza a “hora loca” das celebrações colombianas — aquele momento em que o DJ solta os clássicos e músicas de dança para animar todo mundo. Karol dá seu próprio toque à faixa, chamando passos de dança e mencionando várias pessoas — da tia na cozinha à criança no fundo da festa — que deveriam estar se divertindo. Aqui, Karol mostra quem realmente é: só uma garota que quer fazer os amigos dançarem e animar a festa com coração e alma.
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