ENTREVISTA

Luiz Carlini fala à RS sobre Rita Lee & Tutti Frutti, 50 anos de ‘Fruto Proibido’ e show especial

Guitarrista celebra meio século de álbum clássico com show especial; em bate-papo, ele fala sobre espetáculo e relembra história do disco

Igor Miranda (@igormirandasite)

Publicado em 28/06/2025, às 09h45 - Atualizado às 09h45
Luiz Carlini nos estúdios da Rolling Stone Brasil - Foto: Rolling Stone Brasil
Luiz Carlini nos estúdios da Rolling Stone Brasil - Foto: Rolling Stone Brasil

2025 é um ano especial para Luiz Carlini. O guitarrista celebra os 50 anos do álbum mais importante de sua carreira: Fruto Proibido (1975), de Rita Lee & Tutti Frutti.

Enquanto ainda prepara o anúncio de uma turnê, o Tutti Frutti, que segue na ativa, comemora o importante marco com um show especial no Tokio Marine Hall, em São Paulo. A apresentação, marcada para o dia 9 de julho, terá convidados ilustres: Jorge Ben Jor, Frejat, Paulo Ricardo, Andreas Kisser, Supla, Lobão, Marisa Orth e Zélia Duncan. A venda de ingressos ocorre pelo site Ticketmaster.

Além de Carlini, o Tutti Frutti conta hoje com Sol Ribeiro (voz), Roy Carlini (guitarra), Mario Testoni (teclado), Geraldo Vieira (baixo) e Lucas Tagliari Miranda (bateria). Os irmãos cantores Gilberto e Rubens Nardo, que também estão em Fruto Proibido, também participam.

Um marco do rock nacional, Fruto Proibido é o quarto álbum de Rita Lee sem os Mutantes e o segundo registrado desde sua saída do grupo, em 1972, bem como o segundo em parceria com o Tutti Frutti. Representou, ainda, a estreia da artista na gravadora Som Livre. Em meio às suas nove faixas e 37 minutos de duração, trouxe canções como “Ovelha Negra”, “Agora Só Falta Você”, “Esse Tal de Roque Enrow” e “Luz del Fuego”, que se tornaram clássicos da música brasileira.

Em um longo bate-papo com a Rolling Stone Brasil, disponível em vídeo e com trechos em texto a serem disponibilizados abaixo, Luiz Carlini promoveu uma viagem no tempo ao falar sobre Fruto Proibido. O guitarrista relembrou o contexto da época — tanto o pré quanto o pós-álbum — e refletiu sobre todas as faixas do disco. Além disso, falou a respeito da apresentação do dia 9 de julho, bem como os planos de levar o espetáculo para outras cidades.

A entrevista completa pode ser assistida, em vídeo, logo abaixo. Os destaques em texto estão publicados na sequência desta página.

Entrevista com Luiz Carlini (Rita Lee & Tutti Frutti)

Sobre a ideia de celebrar os 50 anos de Fruto Proibido com show especial
Luiz Carlini: “Agora que esse álbum está completando 50 anos, senti que tínhamos que fazer algo para homenagear essa obra tão premiada. O disco revelou Rita Lee & Tutti Frutti de uma forma… já tínhamos dois álbuns anteriores — um que acabou não lançado —, mas esse foi o que estourou. E tem muitos clássicos nele: ‘Esse tal de Roque Enrow’, ‘Ovelha Negra’, ‘Agora Só Falta Você’, entre outras. Paulo Baron, empresário da Top Link Music, comprou a briga de fazer esse show no Tokio Marine Hall e falou para arrumarmos convidados. Todos os meus amigos para quem liguei se prontificaram a participar — alguns deles tocam ou até gravaram algumas dessas músicas. Os convidados são: Roberto Frejat, Paulo Ricardo, Andreas Kisser, Supla, Lobão, Marisa Orth e, acredite se quiser, Jorge Ben Jor. Ele deu o pontapé inicial no rock no Brasil. Os Mutantes, minha banda referência desde criança, gravaram ‘A Minha Menina’, música dele.”

A respeito da possibilidade de rolar uma turnê comemorativa:
LC: “Vamos fazer. Logicamente, não com esses convidados que participam desse show de São Paulo. Mas sempre usei convidados no show. Quero fazer em outras capitais com os convidados e artistas locais.”

Luiz Carlini e Sol Ribeiro, do Tutti Frutti
Luiz Carlini e Sol Ribeiro, do Tutti Frutti - Foto: divulgação

O vínculo de Luiz Carlini com os Mutantes:
LC: “Nasci em São Paulo, no bairro da Pompeia, berço do rock brasileiro. Sou um sortudo. Era vizinho à casa dos Mutantes. Na esquina, o Made in Brazil. Comecei a viver essa cena. Sérgio Dias era meu amigo aos 11 anos de idade. Foi quando eles se mudaram para a Pompeia. Ele foi o primeiro a me estimular a tocar guitarra. Conheci os Mutantes antes de terem esse nome — e a Rita já frequentava. Quando a conheci, ela tinha uns 16 anos e eu tinha entre 11 e 12. Às vezes até falam que eu fui roadie dos Mutantes, mas antigamente não existia roadie aqui: os amigos carregavam os equipamentos e iam juntos.”

O início da parceria com Rita Lee:
LC: “Chegou ao ponto em que os Mutantes caminhavam para o rock progressivo, no início dos anos 1970, e eu mesmo estava em uma época lisérgica, o que me levou a criar minha primeira banda. Sempre fui de compor, não era cover. E minha banda chamava-se Lisergia, pelo momento que vivíamos, e meu nome, que é Luiz Sérgio, virou Luiz ‘Sérgico’. Quando a Rita saiu dos Mutantes, ela tentou fazer uma dupla com a Lúcia Turnbull chamada Cilibrinas do Éden. Durou pouco, porque era um duo folk. Era legal, mas precisava de banda. Estávamos próximos, então fomos meio que ‘a bola da vez’. Foi assim que juntou o Lisergia com a Rita Lee. Comercialmente falando, não podia chamar a Lisergia, então fomos batizados de Tutti Frutti pelo Antônio Bivar, que era o nosso diretor do show.”

O salto de qualidade entre Atrás do Porto Tem uma Cidade (primeiro álbum lançado por Rita Lee & Tutti Frutti, em 1974) e Fruto Proibido:
LC: “Chama-se ‘evolução’. Éramos uma banda muito determinada. Ensaiávamos todo dia, andávamos juntos, íamos ao cinema junto — com a Rita, inclusive. A união cresceu, fomos compondo e nos entendendo. Eu era muito jovem no primeiro disco, tinha uns 19 anos. Hoje, um cara com 19 anos sabe tudo. Na época, não era assim. Mas acho o Atrás do Porto Tem uma Cidade muito autêntico, com músicas boas. É o disco de ‘Mamãe Natureza’ e outros hits, além de algumas músicas que eram do Lisergia, tanto riffs quanto textos.”

A influência de Andy Mills, op produtor que não é produtor, emFruto Proibido:
LC: “Andy Mills é um inglês — ainda nos falamos raramente pela internet — que veio ao Brasil com o Alice Cooper como stage manager, tipo um roadie que manda no palco. Por algum motivo, ele ficou no Brasil e conheceu a Rita, com quem começou a namorar. Ela o levou para a banda. Então, era um cara atualizado com o que acontecia no rock internacional. Me ajudou muito. Daí, o levamos para produzir o disco. Como o cara era gringo e trabalhava para uma banda famosa, todos achavam que ele sabia de tudo, mas não foi assim: ele aprendeu conosco também. É impossível criticar esse disco, é um sucesso, mas ele tem uma série de erros técnicos, como o solo de ‘Agora Só Falta Você’ estar em apenas um canto no estéreo, os pianos estarem altos, etc. E isso porque ele não era um mega produtor inglês. Ainda assim, ele trouxe uma vivência e uma vibe legais.”

“Agora Só Falta Você”, a coautoria de Luiz Carlini no álbum:
LC: “Fiz a linha melódica inteira da música em casa e comecei a escrever a letra. Parei e liguei para Rita para me ajudar. Fui para a casa dela no Pacaembu tipo umas 15h e voltei às 17h com a música pronta. Ela entrou com a segunda parte da letra. Essa música virou um hit. Participou de vários comerciais, entrou em vários filmes — inclusive, entrará em dois novos filmes agora. Também é uma das mais regravadas: por Frejat, Paulo Ricardo, Zizi Possi, Pitty para a trilha de ‘Malhação’, Maria Rita, Caetano Veloso tocou em show, já vi o Chorão cantar. Um sucesso.”

A música que é “a cara da Rita Lee”:
LC:‘Esse Tal de Roque Enrow’ é a cara da Rita. Ela está falando da mãe e tal, que vê a filha daquela forma. Um grande clássico. Às vezes penso: essa música chama ‘Esse Tal de Roque Enrow’, mas ela é toda ‘quebrada’. Não é um rock n’ roll com levada padrão 4/4. No Tutti Frutti, isso deve-se muito ao Lee Marcucci, porque o baixo dele era todo ‘quebradão’, até por influência progressiva. Nunca vi o Lee como um baixista de black music, com levada, swing. Sempre foi mais pelas frases de baixo, algumas coisas ‘encrencadas’.”

“Ovelha Negra”, o hit máximo do álbum:
LC: “‘Ovelha Negra’ quer dizer ‘Rita Lee’. É uma música que a artista faz para ela, como Raul Seixas fez ‘Maluco Beleza’ para si. Acho que é a melhor obra da Rita Lee, de tudo que ela fez. Ela compôs essa música na nossa frente. Ela fez os primeiros acordes e eu fiz uma parte da harmonia, que é o ‘baby, baby, não adianta…’, só que sem a letra — essa harmonia toda, que é a do solo. Não consto como autor, ela não me colocou e acho que deveria ter colocado, pois fiz a harmonia após ela ter dito: ‘e agora?’.”

O solo de “Ovelha Negra”:
LC: “Não existia solo inicialmente. Eu ficava ouvindo a música no estúdio e ela só ia abaixando o volume, meio triste, vazio. Senti que deveria colocar algo. Pensei tanto nisso que sonhei com o solo e acordei assobiando. Eu recebi esse solo. Acho que isso me foi dado, pois também provoquei, de tanto pensar sobre. Não mostrei para ninguém. No estúdio, na hora da mixagem, à noite, falei que tive uma ideia de solo e ninguém quis. Tentei no dia seguinte, ninguém quis. ‘Guitarrista é f#da, quer solar em tudo’. Numa terceira vez, paramos para um café, o Andy Mills me pediu para mostrar o solo. Desci para o estúdio, mostrei e voltei para a sala de mixagem. Todo mundo: ‘do car#lho, ficou lindo, ideia maravilhosa’. [Risos] Ouvimos várias vezes, então eu falei para gravarmos de novo, com outro drive, o Andy disse: ‘não, já está gravado’. E tirou a fita.”

A turnê de Fruto Proibido:
LC: “Fizemos turnê pelo Nordeste com um caminhão trazendo todo o equipamento, iluminação e cenário. Não tinha nada. Fomos para todas as cidades grandes de lá. Só tinha a tomada. Os shows eram feitos em ginásio, porque era o lugar que cabia mais gente na cidade. Levávamos tudo daqui e íamos de avião. Era como abrir o mato com cortador de unha. Era a grande batalha do rock brasileiro da década de 1970 e acontecia com as outras bandas que também faziam turnês, como os Mutantes, Made in Brazil, O Terço… não havia infraestrutura para as turnês. O rock brasileiro é muito valente nesse aspecto.”

Serviço — Tutti Frutti celebra Fruto Proibido

  • Data: 9 de julho de 2025
  • Local: Tokio Marine Hall - São Paulo/SP
  • Ingressos: disponíveis no site Ticketmaster

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