Julgamento de Diddy: Testemunho de Kid Cudi e pílulas de ecstasy no formato de Obama
Na segunda semana do julgamento criminal do magnata do hip hop, Kid Cudi, a mãe de Cassie e um dançarino exótico testemunharam
Cheyenne Roundtree
Publicado em 26/05/2025, às 10h32
A segunda semana do julgamento criminal de Sean Combs trouxe outra celebridade para o banco das testemunhas: Kid Cudi, que declarou que Combs ficou parado como um "supervilão da Marvel" quando o confrontou, enciumado, sobre seu carro ter sido incendiado em 2012.
O suposto incêndio criminoso é central para a acusação de extorsão movida pelo Distrito Sul de Nova York contra Combs. O episódio também reforça a alegação de que Combs manteve sua namorada de longa data, Casandra “Cassie” Ventura, presa em um relacionamento abusivo por uma década, através de medo, coerção e violência física.
Combs, de 55 anos, declarou-se inocente das cinco acusações criminais de conspiração para extorsão, tráfico sexual e transporte com fins de prostituição. Seus advogados afirmaram anteriormente que não há provas que conectem diretamente Combs ao coquetel molotov que destruiu o Porsche carbonizado de Kid Cudi.
Quase uma dúzia de homens e mulheres subiram ao banco das testemunhas nesta semana para depor contra Combs. Muitos não o viam há anos, enquanto alguns admitiram ter enviado mensagens esporádicas ao executivo musical nos últimos tempos. A cantora do Danity Kane, Dawn Richard, voltou ao tribunal após uma breve aparição na primeira semana, assim como a mãe de Ventura, Regina, a ex-melhor amiga de Ventura por 17 anos, Kerry Morgan, e Sharay Hayes, um dançarino exótico conhecido como “The Punisher”.
Combs parecia estar de bom humor, apesar da ausência da maior parte de sua família no tribunal nesta semana. Ele cumprimentou seu ex-assistente pessoal, George Kaplan, com um sorriso genuíno. Riu junto com o tribunal quando outro ex-assistente pessoal, David James, admitiu ter “dado uma de Diddy-bop” pela festa de Ano Novo de Combs após pegar uma dose de MDMA do estoque de drogas do empresário.
Mas Combs ficou com a expressão fechada quando Kid Cudi — nome verdadeiro Scott Mescudi — detalhou como seu breve romance com Ventura terminou abruptamente depois que ele descobriu que a cantora de R&B estava namorando Mescudi.
Combs também pareceu remoer em silêncio quando um agente especial da Homeland Security Investigations descreveu o excesso de drogas, óleo de bebê e armas apreendidos em sua casa em Miami, e quando a psicóloga clínica e forense Dra. Dawn Hughes explicou por que vítimas permanecem em relacionamentos abusivos.
Ventura não é a única suposta vítima no caso. Uma ex-namorada identificada pelo pseudônimo “Jane” — também chamada de Vítima-2 — e uma ex-funcionária, referida como “Mia” — Vítima-4 — também devem depor contra Combs. Mas há uma incógnita sobre se outra ex-namorada de Combs, Gina, será chamada a testemunhar. (Segundo a CNN, Gina é mencionada na acusação como Vítima-3 e não deve depor.)
O nome de Gina já apareceu várias vezes ao longo do julgamento. Ventura e Morgan disseram que Gina foi um “problema” no relacionamento de Ventura com Combs, e Kaplan relatou que uma vez viu Combs atirar maçãs decorativas em Gina durante uma briga prolongada. Nesta semana, o principal advogado de defesa de Combs, Marc Agnifilo, afirmou que Gina “está fora do caso”, enquanto a promotoria rebateu dizendo que ela “faz parte, sim, deste caso”.
Abaixo, veja os principais momentos da segunda semana do julgamento, segundo Rolling Stone:
Kid Cudi depõe
Vestido casualmente com jeans claro e uma jaqueta de couro, Kid Cudi entrou tranquilamente na sala de audiências lotada na manhã de quinta-feira. O artista de 41 anos parecia relaxado, sendo visto fumando um cigarro ao chegar ao tribunal federal em Manhattan.
Mescudi declarou que havia se apaixonado por Ventura antes de o breve caso terminar, quando Combs descobriu o relacionamento, em dezembro de 2011. Nas primeiras horas da manhã, Mescudi disse que recebeu uma ligação frenética de Ventura, que soava “muito estressada ao telefone, nervosa, assustada” após fugir de um Combs furioso.
Mais tarde naquele mesmo dia, Mescudi disse ter recebido outra ligação angustiada, desta vez de Capricorn Clark, amiga de Ventura e funcionária de Combs, que informou a Mescudi que Combs estava dentro da sua casa. Mescudi afirmou que correu de volta para sua residência, ligando para Combs no caminho.
“Vou ser muito franco”, Mescudi disse ao tribunal. “Eu falei: ‘Filho da puta, você está na minha casa?’ E ele disse: ‘Só quero falar com você.’ E eu falei: ‘Estou indo agora.’ E ele disse: ‘Estou aqui.’” Mas, quando Mescudi chegou, Combs não estava em lugar nenhum. Em vez disso, Mescudi contou que encontrou presentes da Chanel rasgados e seu cachorro trancado no banheiro.
Mescudi se recusou a aceitar as tentativas repetidas de Combs de resolver a situação. “Eu disse para ele, falei especificamente: você invadiu minha casa. Você mexeu com meu cachorro”, relatou Mescudi. “Tipo, eu não quero falar com você.” Mas o relacionamento entre Ventura e Mescudi esfriou imediatamente após a invasão. “O drama estava saindo do controle”, testemunhou Mescudi. “Eu meio que quis dar um espaço para ela... pela minha segurança, pela segurança dela...”
Ainda assim, a situação escalou em 9 de janeiro de 2012, quando Mescudi soube que um coquetel molotov havia sido jogado dentro de seu Porsche conversível, carbonizando o interior do veículo de luxo. Mescudi então decidiu ligar para Combs “porque eu sabia que ele tinha algo a ver com” o ataque ao carro.
Ao chegar a um clube exclusivo para membros, Mescudi disse que viu Combs “olhando pela janela, com as mãos para trás, como um supervilão da Marvel”. O encontro terminou com os dois apertando as mãos, mas Mescudi perguntou sobre o carro. “Não sei do que você está falando”, respondeu Combs.
Os dois deixaram o assunto por isso mesmo. Mas Mescudi testemunhou que saiu dali acreditando que Combs “estava mentindo”.
Informações demais
Durante os depoimentos dos ex-assistentes pessoais de Combs e de um gerente de hotel, surgiram diversos hábitos pessoais estranhos do empresário — incluindo seu gosto peculiar por espalhar purê de maçã Mott’s nos cheeseburgers e, supostamente, consumir comprimidos de ecstasy com o formato do presidente Barack Obama.
David James, que trabalhou para Combs de 2007 a 2009, disse que era responsável por antecipar as necessidades e caprichos do magnata, abastecendo os quartos de hotel com uma variedade de alimentos e itens de higiene. “Ele nem sempre usava esses itens, mas eu fui treinado a providenciar tudo, caso ele precisasse de alguma coisa”, explicou James. “Assim ele não precisaria ligar depois.”
Entre os itens preferidos de Combs durante as viagens estavam ketchup Heinz, Vitaminwater com sabor XXX, gelatina, garrafas de água Fiji, vodka Ciroc e suco Simply Lemonade. James também disse que Combs mantinha sua necessaire abastecida com cerca de 40 produtos diferentes, incluindo pomadas e tintura para cabelo e barba Just For Men.
Na quinta-feira, o gerente geral do L’Ermitage Beverly Hills, Fredric Zemmour, apresentou o que ele disse ser o perfil de hóspede de Combs no hotel. Os registros indicam que Combs frequentava o hotel de luxo desde 2008, com as reservas muitas vezes feitas sob diversos pseudônimos dele e de Ventura.
Zemmour relatou que o hotel mantinha um registro interno de suas preferências e anotações da equipe de limpeza, incluindo uma diretriz que exigia uma limpeza profunda após a saída de Combs. “Sempre derrama cera de vela em tudo e usa quantidades excessivas de óleo”, dizia a anotação. “Colocar o quarto fora de serviço após a partida para limpeza profunda. Por favor, autorize um extra de US$ 1.000 quando o hóspede ficar conosco para cobrir eventuais danos.”
Outra nota interna dizia: “Por favor, monitore a área fora do quarto dele. Borrife aromatizador pelo corredor. Ele gosta do quarto quente. Ajuste o termostato para 24 °C. Coloque um aquecedor portátil no quarto antes da chegada.”
Sharay Hayes, um dançarino exótico conhecido como “The Punisher”, deu mais detalhes sobre o que acontecia durante os “freak-offs” (encontros sexuais) com Ventura e Combs. Hayes estimou que participou de até uma dúzia de encontros sexuais com o casal de celebridades entre 2012 e o início de 2015.
Na primeira vez em que Hayes disse ter encontrado Combs durante um “freak-off”, o executivo musical entrou no quarto completamente nu, com o rosto coberto. “Eu não conseguia ver o rosto dele”, explicou Hayes. “Era como — não sei como se chama, é tipo o que as mulheres muçulmanas usam, em que o rosto fica totalmente coberto por um véu e só se veem os olhos.”
Hayes disse que Combs frequentemente dava instruções a Ventura durante os encontros sexuais. “Eu não pensava sobre o nível de prazer dela”, acrescentou Hayes. “O que eu entendia era que estávamos criando uma cena sensual que fosse agradável para o parceiro dela.”
Mãe de Cassie fez empréstimo com garantia da casa para pagar US$ 20 mil a Combs
Regina Ventura depôs na terça-feira, relatando que Combs “exigiu” dela US$ 20 mil em dezembro de 2011, depois que o magnata do hip hop ficou furioso ao descobrir que Ventura mantinha um relacionamento secreto com Kid Cudi.
Na época da exigência, Regina disse ter recebido um e-mail alarmante de Ventura, no qual a filha afirmava que Combs estava ameaçando divulgar vídeos sexualmente explícitos da cantora de R&B. “Eu fiquei fisicamente doente”, disse Regina. “Eu não entendi muita coisa”, continuou. “As fitas de sexo me deixaram abalada. Eu não sabia quem era a outra pessoa nos vídeos, mas sabia que ele iria tentar machucar minha filha.”
Regina contou que um Combs “irritado” entrou em contato com ela, dizendo que precisava “recuperar o dinheiro que havia gasto com [Ventura]”. Ela então correu para fazer um empréstimo com garantia da casa no valor de US$ 20 mil. Transferiu o dinheiro para uma das contas bancárias de Combs porque, segundo ela, “estava com medo pela segurança da minha filha.” Regina afirmou que o dinheiro foi devolvido, sem explicação, alguns dias depois.
Metralhadoras, salto plataforma e óleo de bebê apreendidos na casa de Miami
O agente especial Gerard Gannon, da Homeland Security Investigations, testemunhou nesta semana que um veículo blindado foi usado para arrebentar o portão de ferro da mansão de Combs em Star Island, durante uma operação surpresa realizada em março do ano passado. Dezenas de agentes vasculharam a propriedade de US$ 48 milhões em busca de itens relacionados à investigação de tráfico sexual e extorsão, deixando a residência com caixas contendo óleo de bebê, armas de fogo, saltos plataforma de dançarinas exóticas e um estoque de narcóticos.
Segundo Gannon, dois rifles semiautomáticos do tipo AR-15, sem numeração de série, foram encontrados em um dos closets da casa de Combs. A parte inferior das armas estava guardada em uma caixa de papelão, enquanto os receptores superiores estavam enrolados em uma toalha branca. Gannon explicou que, como ambos os rifles tinham seus números de série “apagados”, o processo para identificar o proprietário das armas ficou “muito mais difícil ou até impossível.”
Durante as audiências de fiança de Combs no ano passado, os advogados do empresário alegaram que as armas pertenciam a membros de sua equipe de segurança. “Ele não tem nada a ver com a forma como as armas são mantidas em sua casa”, afirmou Marc Agnifilo, principal advogado de defesa de Combs. “Ele contratou uma empresa de segurança profissional que mantém armas na residência.” No entanto, como os promotores destacaram na mesma audiência, seria “absurdo” pensar que uma “segurança armada de uma empresa profissional usaria AR-15s com numeração raspada e as armazenaria desmontadas no closet pessoal do réu.”
Também foram encontrados nos closets diversos itens que, segundo Ventura, eram usados rotineiramente nos chamados “freak-offs”. Pelo menos uma dúzia de pares de saltos plataforma de 18 centímetros estavam guardados em caixas e gavetas; além de brinquedos sexuais, incluindo algemas de “amor”, cordas e balas aromatizadas para sexo oral; além de lingerie embalada e fantasias sensuais, relatou Gannon. Ele disse que havia várias dezenas de frascos de lubrificante Astroglide e óleo de bebê em um único closet.
Uma bolsa preta da Gucci foi encontrada no closet de Combs, contendo uma grande quantidade de pós e comprimidos de diferentes cores — incluindo um comprimido triangular laranja com o símbolo da Tesla — que posteriormente testaram positivo para cetamina, cocaína, MDMA e um ingrediente ativo presente no Xanax. Alguns dos comprimidos continham uma mistura de cetamina e MDMA. Os promotores disseram que também encontraram um frasco de colírio Lumify na bolsa, e o líquido testou positivo para cetamina e MDMA.
Dawn Richard, funcionária de Combs e melhor amiga de Cassie, presenciou abusos físicos
Quatro pessoas testemunharam nesta semana que estavam presentes quando Combs agrediu fisicamente Ventura, todas admitindo que não chamaram a polícia nem interferiram no ataque motivado por raiva, pois temiam por sua própria segurança.
A ex-melhor amiga de Ventura, Kerry Morgan, disse que entrou em pânico durante uma viagem à Jamaica, em 2013, quando supostamente viu Combs arrastar Ventura pelos cabelos por um longo corredor antes de empurrá-la violentamente ao chão, fazendo com que Ventura batesse a cabeça no piso de tijolos. Morgan contou que correu atrás de Ventura, que fugiu descalça de Combs para uma área arborizada próxima. Juntas, elas se esconderam de Combs agachadas em uma vala por aquilo que “pareceu durar horas”, relatou Morgan.
Kaplan, que trabalhou como assistente de Combs de 2013 a 2015, afirmou que, certa vez, durante um voo particular para Las Vegas em 2015, ouviu o som de vidro se quebrando e uma “tremenda comoção” vindo da parte de trás do avião, onde estavam Combs e Ventura.
Ele se virou e, supostamente, viu um Combs irado em pé sobre uma Ventura angustiada, com Combs segurando um copo de uísque na mão. “Ninguém está vendo isso?”, gritou Ventura, segundo o relato de Kaplan. Ele admitiu que desviou o olhar e não se envolveu, pois estava preocupado em prejudicar sua carreira. “Eu não conseguia acreditar na minha sorte de estar trabalhando para um ícone assim”, explicou. “E a última coisa que eu achava que me faria ter sucesso nessa carreira seria comprometer o bem-estar dele de alguma forma.”
A cantora Dawn Richard, integrante dos grupos Danity Kane e Diddy-Dirty Money, testemunhou que ficou chocada e assustada quando supostamente viu Combs pegar uma frigideira e tentar acertar Ventura na cabeça com o objeto, em 2009. “Ele estava batendo nela na nossa frente”, disse Richard sobre o motivo pelo qual não tentou interromper o ataque. “Eu fiquei com medo de que, se eu interviesse ou fizesse qualquer coisa, a situação pudesse piorar.”
A maquiadora de celebridades Mylah Morales disse que, embora tenha tentado encorajar Ventura a procurar atendimento médico após Combs supostamente deixá-la com um olho roxo, um lábio cortado e inchaços na cabeça em 2010, ela própria tinha muito medo de Combs. “Eu temia pela minha vida, porque se ele podia fazer isso com ela…”, começou Morales, antes de a equipe de defesa de Combs interromper sua resposta com uma objeção. Quando perguntada por que não denunciou a suposta agressão à polícia, Morales foi firme: “Eu temia pela minha vida”, afirmou.
O que esperar deste semana?
Devido ao feriado de Memorial Day, nesta segunda, 26, a terceira semana do julgamento começará na terça, 27. A ex-funcionária de Combs, Capricorn Clark, deve ser a primeira a testemunhar, seguida por dois agentes da lei.
Ventura, Morgan e Mescudi mencionaram Clark em seus depoimentos. Na quinta-feira, Mescudi contou que Clark o alertou de que Combs havia invadido sua casa em Hollywood Hills, em dezembro de 2011.
Antes de encerrar para o feriado prolongado, a assistente do procurador dos Estados Unidos, Maurene Comey, informou ao juiz federal Arun Subramanian que o governo está no cronograma para encerrar o julgamento antes do feriado de 4 de julho. Comey disse que os promotores esperam levar mais quatro semanas, enquanto a defesa precisará de cerca de uma semana para apresentar seu caso.