RUPTURA

Por que Ney Matogrosso saiu do Secos & Molhados

Em meio a divergências com João Ricardo, cantor deixou um dos maiores fenômenos da música brasileira no auge do sucesso, em 1974

Guilherme Gonçalves (@guiiilherme_agb) com pauta de Igor Miranda

Publicado em 23/06/2025, às 13h18
Capa do segundo álbum Secos & Molhados, com Ney Matogrosso - Foto: divulgação
Capa do segundo álbum Secos & Molhados, com Ney Matogrosso - Foto: divulgação

O Secos & Molhados durou apenas três anos com sua formação original, de 1971 a 1974. Foi o bastante para se tornar um dos maiores fenômenos da música brasileira em todos os tempos. No auge do sucesso, porém, Ney Matogrosso pulou fora e deixou a banda, cujo álbum de estreia está entre as obras-primas do rock nacional.

Antes mesmo do segundo disco ser lançado, já haviam rachaduras no grupo. As divergências se davam, sobretudo, entre Ney e João Ricardo, principal compositor e letrista do grupo.

A mudança de empresário, com a saída de Moracy do Val e a entrada de João Apolinário — pai de João Ricardo —, foi a gota d'água para Ney. No entanto, aspectos financeiros e pessoais também tiveram influência.

Mudança na gestão do Secos & Molhados

O cantor já comentou o assunto em diversas entrevistas, mas sempre cita a troca de empresário como o fator determinante para sua saída. Ney não via com bons olhos a influência de João Apolinário nos negócios da banda, que, em sua visão, passaria a priorizar os interesses do filho, João Ricardo.

Ney relembrou o episódio ao podcast Papo com Clê (via site Igor Miranda):

"Decidi que ia sair da banda quando nós fomos para o México e nosso empresário (Moracy do Val) não apareceu por lá porque tinha mudado. O pai do João Ricardo tinha virado nosso empresário no lugar dele e eu fui contra. Imediatamente eu fui contra. Aí me disseram: ‘Você assinou pra ele sair’. Eu disse: ‘Eu assinei para ele sair? Eu não quero que ele saia, como que assinei para ele sair?’ Porque me deram uns papéis pra assinar para o escritório continuar funcionando. Só que eu achava que o Moracy ia com a gente. Quando chegou no aeroporto que o Moracy não aparecia, eu já comecei a ficar desconfiado."

Divisão do dinheiro

Outro ponto que levou à ruptura foi a divisão do dinheiro da banda. Com João Apolinário à frente dos negócios, houve uma movimentação para redefinir esse pacto, de modo que os compositores João Ricardo e Gérson Conrad passassem a ficar com a maior parte. Ney, que era "apenas" um intérprete", ganharia menos. E não aceitou.

Em declaração à TV Cultura, destacada pelo Uol, ele afirmou:

"Antes, todo dinheiro que entrava era dividido igualmente entre nós três. Era uma época mais romântica. Só que eu não era compositor. Quando eles perceberam o quanto um compositor ganha, o romantismo dançou. Falei então que queria ganhar pelo show. Eu sabia que eu era um maluco que chamava atenção. Falaram que não podia."

Fim e continuidade

O segundo álbum do grupo, homônimo ou também conhecido como Secos & Molhados II (1974), foi lançado já com o fim iminente. Apesar de contar com ótimas canções, tais como "Flores Astrais", "Não: Não Digas Nada", "Oh! Mulher Infiel" e "Voo", o disco não teve a mesma repercussão da estreia e praticamente caiu no ostracismo ao mesmo tempo em que Ney Matogrosso decidiu sair, resultando no fim do grupo e em carreiras solo dos envolvidos.

Com outras formações, o Secos & Molhados voltou a existir entre 1977 e 1980, 1988, 1999 a 2000 e de 2011 até 2012. Lançou sete álbuns sem Ney. O maior hit na ausência do cantor, "Que Fim Levaram Todas as Flores?", integrou o disco Secos & Molhados III (1978).

Por sua vez, Matogrosso deu início a uma longeva carreira solo com o álbum Água do Céu - Pássaro (1975), que não obteve a repercussão esperada. O êxito comercial retornou com Bandido (1976). Dezenas de discos foram lançados desde então — o mais recente, Nu Com a Minha Música, chegou em 2021, ocasião do 80º aniversário do artista.

Cinebiografia de Ney Matogrosso

Parte da trajetória do Secos & Molhados é retratada no filme Homem Com H. A cinebiografia lançada em 2025 vida e obra de Ney Matogrosso.

Homem com H estreou na Netflix no dia 17 de junho e logo chegou ao topo da lista dos filmes mais assistidos na plataforma de streaming. Na cinebiografia, Ney é interpretado pelo ator Jesuíta Barbosa.

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